«Cada uma destas estórias é uma pequena peça de um mosaico, com a particularidade de cada qual constituir uma peça individual completa, mas que adiciona algo ao conjunto, contribuindo para formar um painel complexo e rico. Pode ser lida individualmente, e a ordem de leitura é mesmo arbitrária.Todavia, no seu todo, compõem um retrato global de um microcosmo, mais especificamente de uma comunidade rural de São Miguel, num tempo que hoje parece de outro milénio. E é de facto, do milénio passado, mas que ainda existia há cinquenta anos e de que nos restam testemunhas em abundância para o confirmar. Com um olhar perspicaz, mas também um ouvido atento (até porque parte considerável delas foi ouvida e não directamente observada), o autor captou-as em narrativas enxutas, porém de modo nenhum secas, pois são na verdade suculentas q.b. Aos jovens de hoje, muitas destas narrativas hão-de parecer invenção, contos da carochinha doutras eras, pois custar-lhes-á a crer que o mundo dos seus pais (não apenas dos seus avós) fosse assim. Se, todavia, lerem atentamente, não lhes poderá escapar a força dos valores que dominavam aquele pequeno mundo, nem todos eles retrógrados. E não faltava nunca sagacidade, esperteza, finura ou humor, marcas que estas narrativas revelam em profusão.Aqui entre nós, dá para perguntar: mas na Maia havia assim tantas e tão boas estórias? É que eu começo a duvidar se o contador em que o Roberto Rodrigues inesperadamente se afirmou não entrou mesmo na efabulação imaginativa e se pôs a inventar, a marca definitiva de um ficcionista encartado.»
Onésimo Teotónio Almeida